sábado, 4 de julho de 2009

A MALDIÇÃO DO DIÁRIO DE JOENE




Um mistério ronda a pequena cidade de Sonodasindias, no interior do Estado do Mato Grosso. Foi um acontecimento que intrigou aquela geração na década de vinte e perdura por toda aquela região até os dias de hoje. É a história de Joene. Uma linda adolescente que, como a maioria das moças de sua idade, sonhava em casar-se e ter filhos. Porém, ela não foi uma garota de sorte. Na verdade, o que se conta pelas redondezas é bem diferente de uma vida de felicidade e para lá de estranho. Sinceramente, para mim, é um pouco fora da realidade. Se existe verdade, ou não, não se pode ter certeza. Concreto é a existência do Diário de Joene que relata todos os fatos. Quer dizer, ele encontra-se guardado em um quarto trancado e inacessível. Pode ser visto por um espelho refletido em outro, através de uma pequena brecha deixada propositadamente na janela do quarto, especialmente para satisfazer os mais curiosos. Este lugar foi preparado pela melhor amiga de Joene, que sofreu um bocado das retaliações por ter aberto e lido o Diário em sua íntegra. Seu nome era Maria. Ela diz que o Diário é amaldiçoado. Tentou destruí-lo, mas coisas sobrenaturais aconteciam. Então resolveu apenas trancá-lo. Bem, se Joene era uma escritora muito imaginativa e ganhou fãs que prolongaram suas estórias no decorrer dos anos, ou se viveu tudo aquilo, realmente, é uma certeza que nunca virá a tona. O que temos são testemunhos e uma imagem do outro lado do vidro. Mas quem terá coragem de abrir o quarto para ver se ao menos o Diário é real? Em todo caso, vamos conhecer sua misteriosa vida, mediante as palavras de Maria, antes de sua morte, em 1957.

Joene sofreu muito. Sua mãe era viúva e se casou novamente, mas escolheu a pessoa errada; viu a filha ser molestada por seu marido. Quando tudo começou, Joene tinha apenas 13 anos. Não se sabe se sua mãe sabia do que o calhorda fazia com sua filha, mas ela raramente a deixava sozinha com ele. Se não tinha certeza, devia desconfiar. Quando tinha que sair, para não deixá-la sozinha com o esposo, levava a menina ou a deixava na casa de uma amiga, a mãe de Maria, que era amiguinha de sua filha. Joene sofreu por dois anos, até que aconteceu uma tragédia. Sua mãe, ao chegar da feira, ouvindo gritos de Joene vindos do quarto, correu até lá com uma faca para defender sua filha, mas, infelizmente, nem conseguiu salvar a si mesma. Ele conseguiu retirar a faca de suas mãos e a matou. Joene ao ver sua mãe morta, não se conteve e pegou uma garrafa que estava sobre o criado mudo, a mesma que ele havia acabado de esvaziar, e o agrediu na cabeça. Mesmo com ele caído no chão e a garrafa quebrada, ela não conseguia parar de agredi-lo. Depois que ela voltou a si, estava no meio da rua, toda ensanguentada, com várias pessoas a apontando como assassina. Foi então que fugiu e se disfarçou para conseguir continuar a viver em paz.

Com ajuda de Maria e de seus pais, ela vivia em uma casa próxima à vila. Eles a deram de presente para ela. Então, ela não se chamava mais Joene, mas Jonas. Se disfarçou de homem e assim estudou, cresceu e virou uma mulher, ou melhor, um homem feito. Trabalhava no escritório do pai de Maria. Tinha um ritual cotidiano de transformação em frente ao espelho. Todas as manhãs, nascia Jonas: bigodes e sobrancelhas grossas. Joene não deixava de registrar nada em seu Diário. Também sempre dizia que não era feliz porque não podia ser uma mulher. Então, resolveu ter duas vidas, dando uma chance para seu lado feminino.

" Jonas" comprou lindas roupas femininas e durante a noite saía sozinha. Por isso, não era vista como uma mulher de família, mas como não tinha identidade, não se importava. Brincava com a vida que podia ter às escondidas, até que engravidou. Sentindo-se em um beco sem saída, mas teve uma idéia, que não sabia se iria dar certo, mas a via como a única opção. Em seu trabalho, todos os dias, comentava sobre uma prima que tinha em Minas Gerais. Mostrava-se alegre dizendo que ela estava grávida. Certo dia falou que seu marido havia sofrido um acidente, caindo do cavalo. Comentava que ficava triste de ela estar tão longe, mas a mãe de sua prima, a sua tia, estava doente e precisava que eles morassem juntos dela para ajudá-la. Com o caminho preparado e a barriga ainda não aparente, dois meses depois, "ele " chegou no trabalho muito triste dizendo que a casa de sua tia em Minas Gerais havia pegado fogo e a única sobrevivente foi sua prima, que se chamava Moema. Eles haviam perdido tudo, mas Jonas iria ajudá-la.

Então, Moema nascia todos os dias à noite, na frente do mesmo espelho, enquanto Jonas morria. Alguns estranhavam que eles nunca apareciam juntos. Mais dois meses se passaram e Jonas não poderia mais permanecer por muito tempo, pois a barriga já estava ficando aparente. Então, "ele" disse que estava muito doente e precisava viajar para cuidar da doença.

Moema, a nova mulher, ficou sozinha na casa aguardando o nascimento de sua filha, sem precisar de seus rituais de transformação. Maria ia visitá-la sempre que podia. Moema confessou a ela que visualizava a imagem Jonas no espelho e que achava que estava ficando maluca. Maria dizia que ela estava impressionada de ter que passar por situações difíceis por tantos anos, mas que as coisas iriam se acalmar e ela teria uma vida normal. Mas as imagens não sumiam, chegando a assustá-la.

Meses se passaram e seu bebê, a qual deu seu antigo nome, Joene, nasceu. Seus amigos, os mesmos de Jonas, foram visitá-la, mas nunca esqueciam de perguntar a respeito de Jonas. Por que ele não dava mais notícias; se ele havia melhorado; quando iria voltar, etc. Moema já não sabia mais o que dizer. A criança já estava com um mês e meio quando policiais visitaram Moema. Disseram que era só uma visita, mas que poderia se tornar uma investigação. Uma denúncia anônima os fizeram duvidar que o desaparecimento de Jonas não era normal. A denúncia era que Moema havia matado Jonas. Por isso não se interessava em informar a polícia o desaparecimento, e esse fato explicaria que somente ela recebia ligações. Moema ficou nervosa, pois não poderia se transformar em Jonas tão cedo, já que ainda estava 7 Kg a mais de seu peso normal e com os seios enormes, cheios de leite.

No dia seguinte, desabafou com Maria e chorou. Queria ter paz. Ficou à frente do espelho enquanto conversava com Maria e viu novamente a imagem de Jonas. Maria também foi surpreendida pela visão, pois achava que era coisa da cabeça de Moema. Ela, impressionada com o que havia visto, ficou muito atordoada., deixando a casa.

Moema olhava fixamente para a imagem de Jonas e começou a conversar com ele. O diálogo foi mais ou menos este, antes de ela sair do quarto com sua filha, aos prantos:
Não é possível, estou ficando esquizofrênica!

_ Se fosse isso, Maria não teria visto a minha imagem. Só você veria.

_ Como pode isso ser real?

_ Você me fez. Todos os dias quando se transformava em mim, você me criou. Agora você quer que eu não exista mais. Não posso deixar isso acontecer.

_ Foi você... que ligou para os policiais?

_ Sim.

_ Isso não pode estar acontecendo.

_ Sim, está.

_ Se eu te criei, não pode ser mal.

_ Por que? Você é má!

_ Eu não sou má!

_ Você matou seu padrasto!

Moema perambulou pelas ruas por algumas horas e escrevia os últimos acontecimentos em seu Diário. O tempo começou a esfriar e ela teve que voltar; seu bebê ainda precisava de cuidados especiais de um recém-nascido. Ela entrou em casa com muito medo. Colocou Joene na cama e foi até ao "quarto do terror" ver se aquele Ser ainda estava no espelho. Lá estava ele, olhando fixamente para ela. Pediu desculpas pelo que havia dito, mas não adiantou. Moema o mandou embora. Ele disse que não iria e que insistiria até que ela voltasse a ser Jonas para que ele pudesse sair do outro lado do espelho. Ela não entendia essas palavras e foi diretamente à pergunta: "Se eu voltar a me transformar em Jonas, você sairá do espelho?" " Sim" , disse ele. "Por apenas mais seis meses de transformação, todos os dias. Então, estarei forte o suficiente para sair daqui, e aí, poderemos nos casar e cuidar de Joene, que também é milha filha" . Foi então que ela pegou o espelho e o jogou no chão com toda violência o espatifando em mil pedaços. Moema resolveu fugir novamente daquele lugar, mas ao descer as escadas com Joene, escorregou logo no primeiro degrau e mais uma tragédia em sua vida aconteceu. O Diário, cujas últimas informações estão escritas em sangue, com a letra de Moema, ainda diz: "E estamos aqui, cuidando de Joene, do outro lado do espelho. Minha vida está neste Diário, que deve ser protegido ou reagirá a qualquer ameaçada".

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