domingo, 16 de agosto de 2009

A FORÇA DO AMOR




Camile, uma linda moça de classe média baixa, cresceu em um ambiente em que não se acreditava no amor entre um homem e uma mulher. Sua família sempre dizia que o amor, como aqueles, cinematográficos ou conto de fadas, não existia; que muitos o confundiam com a paixão. A paixão é um momento feliz com alguém que se quer bem. Pode durar um dia, ou anos. Deixa o apaixonado sem fôlego e aéreo. O amor, só existe se direcionado a um amigo, um irmão, um pai, uma mãe. Por isso, no casamento, ele acaba surgindo. Nascem “gêmeos múltiplos”, como sua mãe dizia. Com ele vem a falta de vontade de namorar, beijar na boca, fazer amor, passear de mãos dadas e, assim, sucessivamente, até o fim. Todo esse conceito deturpado foi base da formação de sua personalidade: forte e determinada; decidida e prática; romance não fazia parte de seus planos. Nunca Camile imaginaria que sua base fosse retirada como um tapete e que ela pudesse ficar flutuando, como em nuvens.

Tudo aconteceu em uma de suas viagens, a trabalho, para África. Ela era Assistente Social e Repórter, mas nesse caso, ela iria cobrir uma reportagem de uma doença avassaladora que estava tomando grande proporção em uma cidade africana que falava a língua portuguesa. Ainda não sabia-se muito a respeito, mas ela não tinha medo de nada. O que ela queria era uma grande promoção no jornal, não importava o preço.

Chegando no local, que não era nada turístico, após hospedar-se como podia, Camile começou sua jornada de pesquisas. Filmando tudo que parecia interessante, interrogando tantos quanto pudessem acrescentar em seu trabalho, conheceu um médico que estava lá, simplesmente, para ajudar os enfermos. A mando de ninguém, Dr. Floriano, que morava nos Estados Unidos há mais de 10 anos e mantinha uma clínica de dermatologia de grande sucesso no local, abandonou tudo para atender pacientes atingidos pela nova doença que, por sinal, era manifestada na pele. Sua mãe já havia morrido por causa dela, o que o motivou a voltar a sua terra e ajudar a população. “A África é minha origem; os africanos meus irmãos!” Dizia ele, com orgulho.

Dr. Floriano era um mulato muito bonito. Descendente de africano e alemão, os raros olhos verdes destacavam empele morena. Camile ficou impressionada em todos os sentidos. Ele era uma pessoa que cresceu na vida, por esforço próprio; venceu discriminações e desafios e conquistou respeito e um espaço profissional. Mesmo com tantas vitórias, o sucesso não lhe subiu a cabeça e permanecia uma pessoa humilde, de bons princípios e um coração tão humano, quanto puro. Também ficava impressionada por ele não temer ser contagiado pela doença, mas se entregava a ajudar quem estava precisando de seu conhecimento. Ele fazia pesquisas em busca da descoberta da vacina. Colaborou no que pôde para ajudar Camile em sua reportagem. Dizia que era muito importante, até, mesmo, para levantar patrocínio para a descoberta da cura. Camile permaneceu com Floriano por cinco semanas e teve que voltar para o Brasil.

Camile chegou com informações suficientes para uma grande reportagem. Conseguiu a promoção que queria em seu emprego, mas seus pensamentos continuavam lá, com Dr. Floriano. Mas não era só o trabalho que a prendeu tanto tempo na África. Surgiram vários climas de romance entre os dois, mas ela resistiu. Fugiu de todas as tentativas do doutor. Deu várias desculpas e, ao final, confessou que não acreditava no amor e não queria se envolver com ninguém. Agora no Brasil, havia se arrependido de seu comportamento. Seu respeito por ele não poderia tirar os conceitos sobre o amor, que a seu ver, só levavam ao sofrimento. Tentou esquecer o que viveu, mas até seus sonhos a traíam durante os próximos dois meses.

Foi então que, durante uma notícia, resolveu voltar à África. Camile ouviu que a doença havia tomado uma proporção maior. Então, começou a fazer as malas e correu para o aeroporto. Esperou por muitas horas até que conseguiu partir. No avião não acreditava no que estava fazendo. Quantas pessoas queriam correr de lá e, ela, correndo para lá. “Só posso estar maluca!” Pensava. Mas seus sentimentos não a deixavam agir com coerência. Ela queria estar lá o mais rápido possível. Quando chegou, foi direto a procura de Floriano e descobriu que ele também estava doente. Mas ainda assim, estava trabalhando.

Camile, ao chegar em sua sala de pesquisas correu para abraçá-lo, mas ele se esquivou para não contagiá-la. Estava todo coberto com panos, inclusive com uma máscara. A doença era transmissível ao toque, também. Ela não resistiu e chorou. Ele, sem poder tocá-la, apenas sentou-se e via-se as lágrimas escorrerem sobre sua face. Ela se acalmou e assim, puderam conversar. Existia uma esperança. A vacina estava prestes a ser descoberta. Ele havia descoberto o agente causador. Era um vírus que se manifestava mediante a picada de um barbeiro que havia na região, ou contato com as secreções das feridas de um humano infectado. Mas era possível reverter as consequências que o vírus trazia para o organismo. Ele estava quase conseguindo, quando adquiriu a doença, o que atrasou o processo, pois suas mãos estavam cheias de escamas, impossibilitando a manipulação de certos objetos que precisava para concluir seu trabalho. Pediu ajuda a Camile, se ela não tivesse medo de se envolver mais naquela história, claro. Ela não pensou duas vezes e seguia todos os passos ordenados pelo doutor.

Foi mais uma semana de trabalho para chegar ao resultado final. Havia a vacina, para aqueles que ainda não haviam sido infectados e o antídoto, para os que já estavam doentes. Ele, mesmo, foi a cobaia. Já estava sem forças e, às vezes, deixava escapar uma desesperança em um resultado para ele, pois a doença já estava muito avançada. Camile não perdia as esperanças e colocou o antídoto em um soro, conforme orientação de Floriano. Dois dias se passaram e Floriano estava inconsciente. Camile, que já tinha tomado a vacina, passava dia e noite ao seu lado.
No início do terceiro dia, pela madrugada, Floriano se moveu e balbuciou algumas palavras. Camile acordou e ficou super feliz. Ela o acariciou e disse:

_ Meu amado, acorde! Acorde, pois preciso de você aqui, comigo, para sempre.

Ele abriu os olhos e sorriu. Depois, em voz bem baixa, mas com ótima dicção, disse:

_ Estou melhorando! Você conseguiu...

_ Nós conseguimos!

_ ...mas você disse que não acreditava no amor... o que mudou?

_ É... você pode esquecer aquelas minhas palavras. As disse porque eu não conhecia o amor. Agora eu conheço. E aquele que conhece, jamais o confundirá com paixão. Eu só lamento pelas pessoas que não o encontraram, pois é mais real do que a minha própria vida; é um sentimento que só pode vir de Deus, porque não é inconsciente, nem nos deixa aéreos, pelo contrário, nos deixa fortes e em condições de enfrentar qualquer coisa, inclusive a morte.

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